Nos últimos três dias acordei cedo, antes das cinco da madruga e veio aquela vontade de ler ao amanhecer, minha mãe fala que é herança do Vô Zé Chagas, um autodidata que não foi à escola mas adorava acordar na madrugada para ler, escrever e estudar com o dia raiando. Aquele sim tinha memória privilegiada e sabia de cor poemas, sonetos, causos, piadas e até fórmulas matemáticas. Escrevia suas próprias poesias e reminiscências. Afinal, na sua época não precisava encher a cabeça com a ruma de desinformação das redes sociais digitais.
Mantive esse costume dele de ler cedinho há alguns anos entre “1990 e 2009” — outro dia um vizinho me perguntou o porquê de depois da virada do milênio ninguém mais falar os anos em décadas, como quando nos referimos aos anos 56, 68, 70, 88 ou 94 por exemplo, acho que é por estarmos ainda na segunda década dos anos 2000, talvez o armazenamento e acesso a tantos dados nos nossos dispositivos eletrônicos, talvez por causa do bug do milênio, sinceramente não sei bem o porquê mas a parafernália eletrônica que afeta quase tudo na vida deve ter mexido com nosso jeitinho preguiçoso também, óbvio que falar “90 a 09” era muito mais fácil, mas deixa para outra hora esse devaneio — falando em Vô, que lembra velhice e que também me lembra que o Seu Zé Chagas não via vantagem alguma em ficar velho, ao levantar cedo na sexta finalizei mais um livro, o 13º do ano, justamente um de crônicas, esses benditos textos que bolinaram meu saudosismo por reescrever aqui nesse espaço, como uma coisa puxa a outra lembrei de uma outra crônica do João Ubaldo, outro que não gostava da velhice e dizia que o compadre Jorge Amado gostava menos ainda(se é para listar meio mundo, deixo registrado que a Mamãe e seus irmãos trouxeram no sangue essa peleja do Vô e eu do mesmo modo não me animo com o desfecho da vida), que li outro dia e o título é “Alegrias da Velhice”. Nela o Sr. Ubaldo deslancha um pouco do seu bom humor sobre o assunto, no meio do texto narra um episódio em que foi descer alguns degraus e um comboio de garotas correram para “ajudar-lhe”, apenas mais uma coisa chata que as pessoas fazem com os velhos e que ele satiriza no final com um “A velhice não está na mente, está nas juntas”.
Exercitemos as duas então, ok?!
– Leia, escreva e faça exercícios físicos. #ficadica #momentoautoajuda
A diferença da maioria das minhas melhores leituras esse ano é o fato de que as fiz no Kindle, o leitor de livros digitais mais conhecido do mercado, e-reader como dizem os gringos, que te faz desapegar do livro físico, é verdade, acredite! Aliás, essa história de que gosta de pegar, de cheirar, de sentir o volume, é tudo maluquice, o que vale é a leitura, né??? o.0. #desapegue
Não estou fazendo propaganda paga, apenas um elogio, uma avaliação positiva, gratuita mesmo, coisa bem difícil de achar espontaneamente na web, lugar onde as negativas pululam e que tenho muitas ressalvas quando vou pesquisar reviews e feedbacks de produtos, porém discorrerei o assunto quando falar a respeito do presente que a Gabriela Bagriela, minha filha, pediu de presente de natal em outro texto.
O modelo que escolhi é o Kindle PaperWhite que já vem com iluminação gradual embutida, posso ler no escuro e a noite na cama sem incomodar madame Lindona, madrugada passada ela despertou um pouco depois de um choramingo da Marina Morena, minha outra filha, a caçula, me olhou assustada e perguntou no melhor estilo cearense: – Ainvai está é lendo? Virou para o lado e continuou a dormir, sem implicar nem um tiquinho, só por isso o Kindle já teria sido a minha melhor compra em 2014. Mas não é só por isso…
A facilidade de levar comigo todos os livros, de organizar em coleções, dos destaques, marcações e anotações, da acessibilidade, são outras qualidades relevantes no meu leitor digital. A Amazon, fabricante do Kindle, soube realmente sintetizar todas as boas práticas de um livro físico comum numa biblioteca digital de bolso, tenho todos os meus títulos digitais do meu lado, lidos e não lidos, num único volume super portátil e tranquilo de ler até mesmo sob o sol, já que ao contrário das telas de tablets e de smartphones é possível ler como se fosse em papel, sem reflexo. Outra coisa boa é o foco na leitura, a função primordial e pensada para ele é a de um livro, então você não tem interrupções “internáuticas”, mesmo que ele esteja conectado a rede e tenha vindo com um navegador experimental rudimentar, essa possibilidade de usá-lo como tablet não existe, nem pense nisso.
Definitivamente a última cartada e a fisgada fatal aos combatentes do papel saiu essa semana quando o Kindle Unlimeted foi lançado no Brasil, uma espécie de NetFlix dos livros, que como no de vídeos, você tem acesso a todo o conteúdo de leitura digital da Amazon, são milhares de livros a um clique, aliás não é preciso que você tenha um Kindle, apesar de eu achar um desperdício não tê-lo, para participar dessa fartura literária, basta uma conta na Amazon e por R$ 19,90 mensais você pode de qualquer dispositivo conectado a internet desfrutar dessa festa.
– Aproveita que estão dando o primeiro mês de graça para você testar. #ficadica
É isso, estou de volta a escrita e principalmente a leitura. Inté!
O Kindle me trouxe de volta o prazer de ler, que tinha levado um baque feio quando eu troquei os calhamaços de papel pelas séries de TV, em meados dos anos 2000… estava lendo um ou dois livros por ano, e olha lá.
Uns dois anos atrás comecei a ler no iPad, pesadão, mas como eu vi que a principal função do tablet vinha sendo a de leitor de e-books, e a competição com meu filho adolescente estava grande, eu terminei pegando o PaperWhite assim que ele saiu no Brasil. Não me arrependo nem um pouco.
O prazer de ler voltou acompanhado da praticidade. Quando estou sem óculos, aumento o tamanho das letras, quando chego no finzinho do livro e quero alongar mais sua morte, fico indo e vindo para o próximo título da minha lista (esta é aliás, uma mania nova). Quando vou para o médico, levo toda minha biblioteca no bolso. Até quando eu topo com algum artigo mais longo, como os que normalmente aparecem no Medium, eu jogo para ler no Kindle!
A coisa mudou de um jeito que no final da semana passada, estava programando um serviço no carro, e quando cara disse que, com hora marcada eu poderia deixar o carro e voltar três horas depois para pegar, a primeira coisa que me veio à cabeça foi: “opa, três horas para ler” :)
Muito bom Gilberto! :D